domingo, 2 de maio de 2010

Pra que (m) serve a tua cultura?


Fato é que são diversas as formas de conceituar o que é cultura, e não necessariamente essas formas são excludentes. Em alguns casos, essas conceituações apenas tratam de aspectos diferentes, não opostos. A grande dificuldade que qualquer pensamento crítico encontra nesse tipo de definição, porém, não é compartilhada por quem costuma alimentar e fixar os olhares de grande parcela da sociedade: os grandes meios de comunicação.

Da mesma forma que na política ou no esporte, na questão cultural a grande mídia busca incessantemente – mesmo que, em muitos casos, por mero acaso – a construção de um pensamento único, acrítico. É claro que em todos esses setores há honrosas exceções, que, além do necessário contraponto, servem para confirmar a regra geral.

Na política tende-se ao esvaziamento do debate de ideias em prol do circo partidário e suas futilidades e no esporte a tendência costuma ser o acompanhamento unicamente dos grandes clubes de futebol, deixando-se de lado a parte subterrânea, quase marginal que na verdade predomina no esporte brasileiro. Na cultura não é diferente.

A ditadura do pensamento único é imposta pela organização de mídia que temos no Brasil, que prioriza a liberdade de empresa em detrimento da liberdade de imprensa, que torna a comunicação brasileira absolutamente anti-democrática. Essa ditadura que aprisiona e tortura o conhecimento exclui a cultura popular para dar forma e credibilidade a uma cultura produzida e alimentada pela própria mídia, uma cultura pasteurizada, importada, industrializada e servida em latas tampadas a vácuo, sem qualquer espaço para o olhar crítico, para o questionamento, para a rebeldia.

Mesmo na cultura estabelecida, na cultura das elites – que, fique claro, também tem seu valor e, inclusive, poderia ser voltada também para outros públicos – fecha-se os olhos para alguns problemas de acordo com a mais variada gama de interesses. O desmanche das instituições culturais protagonizado pelo atual governo do Rio Grande do Sul é só um exemplo de descaso compartilhado por poder público e grande imprensa, braço discursivo do poder instituído e da acomodação.

O preconceito e a ânsia – consciente ou não – pela exclusão sistemática promove o “esquecimento”, pela grande mídia, de grupos tidos como inferiores intelectualmente. Essa atitude frente ao estranho, ao desconhecido, acaba por moldar o pensamento da sociedade, fortemente vinculado ao que é apresentado pelos meios hegemônicos de comunicação. Grupos sociais como moradores de rua, pequenos agricultores, moradores de favelas, entre outros, são vistos como aculturados, sua enorme carga cultural é ignorada simplesmente por ser diferente.

Está aí, na cegueira e no pensamento único defendido com unhas e dentes pelos veículos de comunicação dominantes, uma das raízes da exclusão social e da repulsa de fatias da elite em relação ao diverso. E está aí, na desconstrução incessante desse tipo de raciocínio, um dos papéis fundamentais da mídia independente.

Postado por Alexandre Haubrich no Blog http://jornalismob.wordpress.com/

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