Nota de repúdio
Foi com muita estranheza que no final da tarde da última terça-feira, dia 13 de abril de 2010 recebemos um e-mail do Diretório Central dos Estudantes da Unisinos convidando-nos para comparecer em sua sede para apresentação da “Semana do Exército” promovida pelo próprio DCE. Esta semana consiste em uma mostra de artigos militares (incluindo armamento) e uma apresentação da banda do 19º Batalhão de Infantaria do Exército Brasileiro.
Comparecemos então portando nossas bandeiras de luta, para simbolizar a nossa resistência à presença de um corpo militar dentro de uma instituição de ensino, em uma manifestação pacífica e silenciosa contra a presença dos militares em nossa universidade. Primeiramente, gostaríamos de prestar solidariedade àqueles que foram vitimas ou vitimizadas pelo poder repressivo deste aparelho disciplinador, entre eles alguns de nossos professores, o que torna esta presença dentro da universidade um tanto quanto constrangedora. Em segundo lugar, nos abomina a idéia de armamento militar dentro de um ambiente universitário, ambiente de ensino aonde existe uma proposição primordial de debater e construir políticas de direitos humanos e de preservação da vida.
O DCE, entidade que diz representar o estudante, ignora o debate sobre o direito à memória e à verdade das pessoas e famílias que sofreram ou tiveram parentes mortos ou desaparecidos durante o período da ditadura militar brasileira, ignora a discussão sobre a Lei da Anistia e o dia 1º de Abril, aniversário do golpe militar, e não consulta aqueles que dizem representar, os estudantes.
Acreditamos também que a Universidade, espaço que deveria não formar uma elite dirigente como apontou um dos militares, mas sujeitos conscientes, transformadores da realidade em que vivemos, foi extremamente infeliz ao abrir espaço para o exército sem sequer propor ou trazer a tona a discussão sobre a abertura dos arquivos da ditadura, sobre a Lei da Anistia e sobre os crimes cometidos contra a população.
Consideramos revoltante a posição do vice reitor quanto a tal situação, quando manifestou plena satisfação frente a presença dos militares dentro do campus da universidade, justificando a presença dos mesmos, com o argumento de que o exército sempre esteve ao lado da Unisinos, argumento este um tanto quanto curioso.
No ato simbólico que efetuamos em frente ao DCE, como repúdio diante de tal situação, fomos desmerecidos e repreendidos pelos próprios membros do Diretório, os quais chamaram os seguranças da universidade para nos proibir de manifestarmos nosso descontentamento, rompendo qualquer possibilidade de debate democrático.
Enquanto estudantes, conhecedores de nossa história, queremos deixar claro que não podemos aceitar, sem debate ou consulta, que uma entidade como o DCE, supostamente representativa dos estudantes, tome uma decisão ou apóie a entrada de uma instituição que há não muito tempo atrás, matou, torturou e desapareceu com seres humanos.
Assinam o Manifesto:
Diretório Acadêmico de Ciências Sociais Florestan Fernandes, Resistência Popular, Diretório Acadêmico de Filosofia Gestão Práxis, Casa do Estudante Universitário Leopoldense, Estudantes do curso de Serviço Social e História.
3 comentários:
Cara... o que devemos fazer com a forças armadas, então? Pq não sei tu, mas eu vi os caras indo fazer ações humanitárias nos locais atingidos pelos desastres naturais ocorridos a pouco, nos países vizinhos. Óbvio que o passado militar não é nenhuma maravilha, porém hoje o exército está mais para um "braço de apoio" do que para um "braço que tortura." Como canalizar todo um ódio em militares que nasceram nos anos 80 e 90 e que não tem mais ligação nenhuma com o lado perverso do regime militar. Muitos nem sabem o que foi o passado. Ok, eu acho que eles são POUQUISSIMOS aproveitados pelo país, deveriam policiar as fronteiras, combater o tráfico, essas coisas realmentes ruins dos dias de hoje e deixar para a policia, coisas mais leves como passar a mão na cabeça de vagabundo e acompanhar protestos de pseudorevolucionários.
O problema estar em um DCE chamar o exército para fazer uma exposição das suas armas... porque não fizeram uma semana de debates acadêmicos sobre a questão tecnológica, sobre as ações humanitárias como no Haiti (que inclusive há diversas opiniões...). Mas o DCE ignorou que na semana q se discute uma política nacional da Anistia, que passado 01/04, dia do golpe esse não foi o debate, foi apresentar as ARMAS q o exército tem... não é alimentar o rancor, é construir o dialogo a partir do dialogo e não da força/arma.
Anônimo,...
Tenha a santa paciência!
Os estudantes também foram mortos e torturados. O movimento estudantil esteve na resistência. Jovens universitários e secundaristas, "com a primavera entre os dentes" lançaram-se à resistência armada. Familiares,até hoje, procuram os corpos dos seus, para que, na mística do funeral possam encerrar o ciclo da vida. Muitos destes desaparecidos poderiam ser estudantes, na época.
A questão não é a ditadura que ficou lá no passado. É o passado
que se faz presente na instituição militar. Quando negam, ainda hoje, à sociedade brasileira o direito fundamental de poder enterrar seus mortos.
E, mais do que isso, ao negar a abertura dos arquivos da ditadura, negam o direito à verdade histórica. Quem são os responsáveis pelos crimes cometidos sob a ditadura? Ou não ouve crime algum?
Ao meu ver, caro anônimo, o passado militar relaciona-se intimamente com o presente. Pois, assim como, por eventualidade podemos conhecer, por meio de alguns de nossos professores, a rebeldia que era motivo da tortura. O recruta, em sua educação anti-guerrilha, pode conhecer o ódio e o desprezo, necessários ao algoz.
Não esqueça-se, que o golpe de Estado, realizado pelos militares em abril de 1964, foi chamado de revolução, pelos próprios. O que se viu foi uma ditatura sangrenta e desumana. Que endividou o Brasil e definhou gerando inflação exorbitante, estagnação econômica e deixou os anoas 80 conhecido como a "década perdida".
O êxito, que possam, os militares da época ter logrado, seja ter impedido que João Goulart fizesse as reformas de base. A começar pela reforma agrária.
Pois Bem, seu anônimo, quando se referir novamente a pseudorevolucionários, agora sabe para onde olhar?!!
Não é para o protestador, e sim, para o repressor. Que hoje, se personifica na polícia militar.
Sendo assim, sua idéia de botar o exército na rua é redundante. Já que ele já está fora dos quartéis, na figura do PM, que recebe formação militar.
Não é por nada, que a polícia militar se destaque na defesa da grande propriedade rural e urbana e ao combate violento dos protestos. Em detrimento do combate ao crime.
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