quarta-feira, 16 de junho de 2010

As vítimas do Crack

Ontem visitei uma família na zona norte de Porto Alegre onde o filho do casal é viciado pelo Crack. Na conversa com o casal, os relatos montam um quadro de desespero, de aflição e, neste caso, de uma grande vontade de lutar.

As histórias eram as piores possíveis do que já aconteceu com eles. Coisas como amarrar o filho com corrente e cadeado foram relatados como atitudes comuns para impedir o pior. A mãe do menino, um jovem trabalhador, chegou inclusive a confessar que se tivesse uma jaula iria, sem dúvida, prender o menino, pois não suportava mais a situação de vê-lo completamente destruído pela droga  em condições desumanas.

No papo com eles, demonstraram uma grande vontade de lutar contra isso. Indignados com a falta de preparo das equipes hospitalares para tratar de viciados de drogas, reclaramaram que o atendimento obtido num hospital público não é digno de um ser humano. A mãe do menino relatou que se for pra dopar e jogar num canto, ela faz isso em casa e cuida muito melhor. Reforça que tratamento assim é dispensável e relata ter enfrentado um enorme preconceito.

Falaram muito também das fazendas de recuperação de viciados. Relatam que já gastaram muito dinheiro com elas tentando recuperar seu filho e que a grande maioria não possuem tudo o que propagandeam. Falam em atendimento psiquiátrico, psicológico, médico, assistente social, mas não possuem nada disso.

Foi uma visita bastante chocante, mas importante para refletir sobre algumas coisas. Como por exemplo, parece-me necessário pensar em centros nas cidades e nos bairros de atendimento especializado a usuários de Crack, coisa que o sistema de saúde normal não possui qualificação suficiente para atender e que leitos normais não dão conta da necessidade de desintoxicação. É preciso pensar um sistema especial de tratamento. Para isso é necessário um pesado investimento público.

Há no Brasil todo, e em Porto Alegre tem também, os CAPs (Centro de Atendimento Psicossocial) que são unidades de saúde locais/regionalizadas que contam com uma  população adscrita definida pelo nível local
e que oferecem  atendimento de cuidados intermediários entre o regime ambulatorial e a  internação hospitalar. Confesso que não tenho informações de como isso está funcionando em Porto Alegre... mas tenho a certeza que esse casal não tinha informações sobre esse serviço.

As fazendas de recuperação precisam juntamente com financiamento público para as pessoas sem condições de pagar, de fiscalização rigorosa para garantir a qualidade e dignidade no atendimento aos dependentes químicos.

Mas o que mais impressionou mesmo foi a vontade deste casal de desencadear um movimento que seja capaz de envolver e mobilizar as famílias e a comunidade no combate ao Crack. Mas um combate que lute pelas pautas a cima citadas e que exijam melhores condições de vida nas vilas e bairros para impedir que as pessoas sejam atraídas por esta droga de extermínio.

Veja abaixo mais informações sobre o tema na campanha do Ministério da Saúde: NUNCA EXPERIMENTE O CRACK!

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